segunda-feira, 5 de março de 2012

Entrevista com Steve Caballero

Dando continuidade a série que disponibilizará, no Portal CemporcentoSKATE, a íntegra de matérias publicadas na revista.

 Desta vez, trazemos à tona a coluna "Cº 365", de Fabio Bitão, publicada na CemporcentoSKATE # 02 - ANO 14, em 2009. Esta coluna especial de Bitão faz uma homenagem a Steve Caballero, com direito a entrevista e fotos. Confira:

Cº 365 - STEVE CABALLERO

Future Primitive, Animal Chin, Bones Brigade... E quem não se lembra dos shapes da Powell Peralta e dos tão queridos Half Cabs? Tudo isso me transporta para meus tempos de moleque, quando todos tinham seus ídolos, aqueles que mais lhe agradavam no skate. Seja pelas manobras, estilo ou por algum outro motivo que nos levasse a admirá-los. Alguns nomes me vêm à mente, mas um em especial me chamava a atenção. Eu dizia: “Como eu gostaria de fazer algumas manobras que este cara faz… Olha esse shape... Caraca, ele tem uma banda também!”

Essas e outras observações me levaram a tê-lo como uma referência. Por seu ar humilde e sempre disposto a andar de skate, não importando aonde. Estou falando de Steve Caballero. Sim, uma grande lenda viva do skate. Que dispensa apresentações, pois já está “nessa” nos últimos 30 anos. Cab, como é conhecido, já fez muito durante esse período: inventou manobras (caballerial, frontside rock&roll slide), lançou inúmeros models de shape, tênis (olha o Half Cab aqui, modelo de tênis que completou 20 anos recentemente), apareceu em inúmeros vídeos e revistas ao redor do mundo.Viajou pelo planeta e conquistou muitos fãs.

Movido pela força de seu ‘skateboarding’ e sua fé em Deus, ele continua andando (e muito), espalhando sua mensagem e seu estilo por onde passa. Sempre mostrando uma grande paixão e determinação naquilo que faz, seja em cima do ‘board’, praticando motocross ou através de sua arte. Realmente uma pessoa que merece muito respeito.Um ‘Real Skater’. Obrigado pela inspiração, Cab.

Fabio Amad Bitão é skatista e fotógrafo. Em 2008 lançou seu primeiro livro, 365 Graus. Essa coluna é uma extensão desse livro, mostrando um pouco do mundo que Bitão enxerga através de suas lentes.


Steve Caballero: “Aprender Manobras é a Melhor Sensação do Mundo”

Entrevista: Renata Simões
Fotos: Fabio Bitão

Em 2008, durante sua última passagem por São Paulo, Steve Caballero conversou com a jornalista Renata Simões, e falou sobre sua história, Brasil, sua mania por Hot Rods, Obama e muito mais. Com vocês, uma lenda viva do Skate mundial...

Você pode fazer um balanço do que mudou no cenário do skate desde que você começou?

Estou no skate desde 1976. Naquela época não havia muito que pensar sobre o que seria ou não possível, falando de manobras ou carreira. Isso mudou muito nos últimos 30 anos, aconteceu tanta coisa. Eu nunca tive muita expectativa sobre o futuro. Foi uma novidade desde o começo, ainda é, nunca imaginaria que estaria em São Paulo sendo juiz da Mega Rampa.

Você acompanhou a profissionalização do skate, e hoje ele é uma carreira para muitas pessoas.Você acredita que o sentimento ainda seja o mesmo?

Acho que é a mesma sensação... Eu ainda sinto a mesma coisa de quando comecei quando estou tentando manobras que são muito difíceis ou perigosas para o meu nível. Outro dia estávamos descendo o quarter (da Mega) apenas, e tentei fazer pela primeira vez o drop do topo. Ali me senti como se estivesse no meu primeiro drop, como se fosse moleque de novo. Tentar algo que nunca experimentamos antes é uma experiência de humildade, que nos leva à quando estávamos começando a aprender. Então, toda vez que ando de skate é como voltar à infância, por estar tentando algo novo, aprendendo, me dedicando. O skate é isso. É perseverança e trabalho duro, aprender essas manobras é a melhor sensação do mundo, é a essência do skate. Não é estar nas revistas ou ganhar as competições, isso é o que você ganha de “bônus” perto do que realmente significa o skate.

O que você acha que mudou desde que o skate “virou esporte” e deixou de ser “coisa de moleque”?

Para mim sempre foi esporte. Esporte envolve qualquer coisa onde você encontre a competição, o prêmio, onde você tenha que treinar, treinar para aquilo e progredir... Bom, mas todo mundo tem sua definição do que o skate significa. Tentei nunca me limitar a uma visão: para mim é um estilo de vida, um hobby, um trabalho, um esporte, é tudo para mim.

As pessoas estão surpresas com a sua presença aqui. Quais suas impressões da cidade?

É minha terceira vez em São Paulo, e vou para o Rio de Janeiro pela primeira vez. Eu já vi duas partes da cidade de SP: a área pobre e perigosa, e a área rica e bacana, então sei que existem duas partes diferentes. Acho que as coisas estão mudando por aqui, estão melhorando, me sinto mais seguro. E tem uma coisa: é incrível ver os skatistas que vêm daqui, porque sei que esse país é passional, tem muita emoção, é isso que norteia vocês. Skatistas como Lincoln (Ueda) e Bob (Burnquist), Nilton Neves e Fabrizio Santos, sabe? Todos esses caras tem paixão e dedicação pelo skate, e é isso que é necessário para ser um grande skatista; você constrói sua própria cena e não se preocupa com o que outros estão fazendo. Você faz isso apenas por amor ao skate, você será bem sucedido. Eu soube disso quando vim pela primeira vez aqui (quantos anos atrás foi isso?), percebi quando vi os skatistas na rua: eles eram bons, e pensei que quando chegassem aos EUA causariam um grande impacto.

Durante os anos 80 alguns skatistas não vinham ao Brasil por problemas com pirataria* das marcas que eles representavam...

Foi isso que me manteve distante por um tempo, por isso não vim com o Christian (Hosoi) quando ele veio nos anos 80. Eu nunca quis vir ao Brasil por causa dessa nuvem negra... Não haveria utilidade para a companhia para quem eu corria, que é quem pagava pela minha viagem, por tudo, para quem eu trabalhava. Não seria benéfico para os meus patrocinadores se eu viesse. Se eles estão pirateando tudo, por que eu deveria vir aqui?

Mas você disse que acha que as coisas andam diferentes hoje em dia...

Completamente, está mais profissional hoje, mais honesto. Falei com algumas pessoas que representam marcas estrangeiras e eles entenderam o que eu falava sobre negócios corretos. Se desde o começo as companhias daqui trabalhassem legitimamente com as americanas, nós teríamos vindo antes, pois seria bom para todos. Mas era muito sujo, muito desonesto, e eu não quis ajudar pessoas desonestas. E veja como funcionou, porque no final estamos aqui hoje...

Você acha que os skatistas olham para a cidade de uma maneira diferente?

Eu não diria que conhecemos a cidade melhor que os outros, mas que apreciamos a cidade de uma maneira diferente, de uma maneira mais criativa. Usamos a cidade de uma maneira diferente de quem não anda de skate. Não dá para dizer se alguém gosta mais, porque com certeza eles preferiam que não andássemos de skate e detonássemos tudo; o negócio é que temos uma maneira diferente de enxergar o ambiente.

O que você achou da eleição americana?

Fiquei feliz da maneira que foi, votei no Obama. Gosto dele como pessoa, mas como cristão não tanto, porque algumas coisas que ele representa não são muito cristãs. Mas enquanto estamos falando de dirigir o país, acho que ele pode fazer um trabalho melhor que o presidente anterior. Também acho bom mudar, ter alguém que seja novo, com novas idéias, novas coisas.

Você acha que ele pode fazer a diferença?

Eu espero que sim... É só o que posso dizer: eu espero.

Como você começou a pintar e fotografar?

Em 2001 entrei no mundo do motocross e a dirigir “dirty bikes”. Fiz isso por quase seis anos e tinha um amigo que era doido por Hot Rods (carros americanos das décadas de 30 a 50 que são customizados). Fiquei interessado e comecei a ir nos encontros e disse “eu quero ter o meu”. Consegui um Ford 1930 Model A e, ao mesmo tempo que entrei nessa, entrei na arte. Quando estava pintando, essas coisas viraram meu tema: eu podia relacionar minha arte com esse hobby também; eu podia mostrar parte de quem eu era e o que me interessava. Porque o mundo do Hot Rod é muito envolvido com a arte em geral, como pintar o carro com sprays, técnicas diferentes de arte. Eu apenas adaptei os dois mundos e os coloquei junto, eram bons temas. Eu pinto outras coisas além de Hot Rods: faço cartoons, desenhos relacionados com o skate, mas estou aprendendo, desenvolvendo minha arte também.

Você tem participado de exposições com os desenhos de Hot Rods e com os outros também?

Durante os últimos anos colaborei em várias apresentações coletivas. Agora fiz minha primeira exposição solo, que ficou em cartaz em San Jose (Califórnia) até 15 de dezembro de 2008. Escolhi os Hot Rods como tema para a mostra porque o espaço era grande e precisava preenchê-lo. Não tinha trabalhos suficientes, mas havia fotos, então pensei em misturar arte e fotografia, e encher a sala: fiz ampliações em preto-e-branco e pinturas coloridas, imprimi na madeira e ficou muito bacana, um processo que não tinha visto antes. O legal de trabalhar a madeira na impressão das fotos de Hot Rod é que ela dá uma textura e conversa com a idéia dos shapes de skate... fiz também vários shapes em stencil, eu os cortei e pintei.

Como você relaciona isso com o skate? É outra maneira de explorar sua criatividade?

Definitivamente, o que acontece é que o skate me ajuda a ser um bom artista. O skate me ensinou paciência, dedicação e prática. É isso que é necessário para ser um bom skatista, é o trabalho duro. A diferença é que você não se machuca pintando: o único medo é o da rejeição das pessoas ao que você produz. Elas podem dizer “eu não gosto disso”. Mas no que diz respeito a ser um bom artista, estamos falando de tempo e trabalho: é apenas dedicar-se a isso.

Outra coisa com a qual o skate se relaciona muito é música: por que tantos skatistas viram músicos?

É a mesma coisa, tem a ver com ser criativo. E se você não ama música, não é humano, sabe...

Você já tocou em bandas como The Faction e Odd Man Out... Você não se importa de estar longe do palco?

Eu... eu não ligo (risos). Porque música leva tempo, você tem que se dedicar, e agora estou dedicando todo o meu tempo para a arte, para minha mulher, minha família e também tenho passado mais tempo com Deus e aprendendo sobre Jesus Cristo. Minha fé é importante para mim.

Você parece bem meticuloso, estudioso com tudo o que gosta. É assim com tudo?

Sempre fui apaixonado pelas coisas e acho que se você quer aproveitar o melhor de tudo, tem que ser passional. Se não há paixão, então você não tem nada. Ou então você não aproveita a experiência completa. Se entro em algo é para ter tudo. Eu quero saber tudo sobre aquilo, se é bom para mim, se não está sendo positivo, então tenho que aprender sobre aquilo. Você não pode dizer “não gosto disso” a não ser que tenha tentado, ou que tenha visto outras pessoas fazerem e considerado que não traria algo bom. Aí você diz “eu não quero tentar isso”.

O skate chegou à Mega Rampa. O que vem depois?

Você nunca sabe, tem sempre algum skatista pensando um pouco diferente para o que vem depois. Talvez eles adicionem mais movimentos/elementos do street, quem sabe? E é meio senso comum que skatistas gostam de voar... Voar é incrível, é muito divertido voar. E eles estão voando mesmo, e indo muito rápido. É definitivamente uma lição de humildade estar aqui porque nunca tinha visto isso pessoalmente.

Qual a sensação quando você dropa a Mega?

Assustadora. Eu não tentei o salto ainda, talvez algum dia, mas respeito muito qualquer um que drope, salte e faça o aéreo. Definitivamente tem que estar preparado, não é qualquer um que vai e faz isso. Tenho respeito por aqueles que tem essa coragem imensa e habilidade para se apresentarem ali. Até o melhor se machuca...

*Durante os anos 80 a pirataria das marcas de skate mais famosas corria solta no Brasil. Lançavam-se similares nacionais com o nome do original gringo, incluindo produtos licenciados por skatistas profissionais que não recebiam sua parte nisso…

Fonte: FÁBIO BITÃO - CEMPORCENTO
Via:campeonatosdeskate

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